Totalmente sem assunto, sem saco de postar!
Passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto
que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só som-cor,
ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo,
escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei.
E como quem gira um caleidoscópio, vi:
Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido
capaz de transformá-lo em príncipe.
Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se
advinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis,
cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos
quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as
folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.
Meu coração é o mendigo mais faminto da rua mais miserável.
Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde
caiu uma gota d¿água. Indecifrável.
Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin
(será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte,
desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.
Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon,
gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.
Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira mar. A brisa
sopra, saiu a primeira estrela. Há moças nas janelas, rapazes pela praça, tules
violetas sobre os montes onde o sol se pôs. A lua cheia brotou do mar.
Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.
Meu coração é um anjo de pedra com a asa quebrada.
Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único
bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom.
Ao fundo, Piazolla vem gemendo, rouco, louco.
Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os
sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.
Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.
Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de menta.
Flambado, dourado. Pode-se ter visões, pressentimentos, ver rostos e paisagens
dançando nessa chama azul de ouro.
Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar.
Frankensteins monstruosos que sempre acabam por destruir tudo.
Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando
beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos
brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Vega.
Levam junto quem me ama, me levam junto também.
Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola
furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro,
papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso.
Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração teu.
Passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto
que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só som-cor,
ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo,
escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei.
E como quem gira um caleidoscópio, vi:
Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido
capaz de transformá-lo em príncipe.
Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se
advinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis,
cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos
quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as
folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.
Meu coração é o mendigo mais faminto da rua mais miserável.
Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde
caiu uma gota d¿água. Indecifrável.
Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin
(será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte,
desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.
Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon,
gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.
Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira mar. A brisa
sopra, saiu a primeira estrela. Há moças nas janelas, rapazes pela praça, tules
violetas sobre os montes onde o sol se pôs. A lua cheia brotou do mar.
Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.
Meu coração é um anjo de pedra com a asa quebrada.
Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único
bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom.
Ao fundo, Piazolla vem gemendo, rouco, louco.
Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os
sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.
Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.
Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de menta.
Flambado, dourado. Pode-se ter visões, pressentimentos, ver rostos e paisagens
dançando nessa chama azul de ouro.
Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar.
Frankensteins monstruosos que sempre acabam por destruir tudo.
Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando
beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos
brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Vega.
Levam junto quem me ama, me levam junto também.
Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola
furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro,
papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso.
Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração teu.